"Professor
não é o que ensina,
mas o
que desperta no aluno a vontade de aprender."
(Jean
Piaget)
Minha paixão pela banda Supertramp, ainda quando garoto,
levou-me a apreciar um instrumento musical em particular: o saxofone. Tanto que
decidi comprar um, usado mesmo, a partir de anúncios classificados de um
jornal, num tempo em que a internet ainda engatinhava em nosso país.
Então, busquei um instrutor e passei a tomar aulas periódicas
com a expectativa de, um dia, tocar “The Logical Song”. Mas para atingir este
estágio, descobri que teria que aprender escalas musicais, além de ler
partituras.
Meses se passaram e, frustrado, descobri-me absolutamente
desprovido de talento musical. Olhar para um pentagrama com suas claves de sol,
semibreves, colcheias, bemóis e sustenidos era um atestado de ignorância plena.
Era o mesmo que vislumbrar a fórmula do tolueno sem entender nada de química
orgânica.
Resignado, no auge de minha adolescência, aposentei meu sonho.
E, desde então, o sax passou a ser um mero adorno. Aproveitando sua beleza
estética, passei a afixá-lo na parede de escritórios e, mais tarde, na sala de
estar de minha casa.
Quase duas décadas depois, numa daquelas fases da vida que
decorrem de uma crise existencial, experimentei o meu “momento da virada”.
Dentre diversas deliberações, estabeleci como meta aprender a tocar ao menos
uma canção que fosse com o instrumento.
Foi quando conheci Alexandre Pena, um jovem professor que, de
tão apaixonado por música, desenvolveu seu próprio método. E ele, com
ponderação e tolerância, fez-me compreender que eu poderia não ter talento
musical, mas tinha inteligência musical suficiente para aprender a tocar
saxofone. Escala por escala, acorde por acorde, rompi o bloqueio mental que se
instalara e aprendi a apreciar a música e a estudá-la rotineiramente.
Dizem os dicionários que professor é aquele que professa, seja
uma crença ou uma religião. E você só pode professar algo em que acredita,
confia e segue...
Shakespeare, por sua vez, dizia que "heróis são pessoas que
fizeram o que era necessário, arcando com as consequências".
Quando elegemos um guru, e muitos professores assumem este
papel, em verdade estamos vislumbrando um herói, que ao longo de toda uma trajetória
de erros e acertos pavimentou uma trilha pela qual o aprendiz transita com
segurança e conforto.
O tempo passa e cada um de nós também abre clarões por entre a
mata. E nos descobrimos igualmente como heróis, em especial quando dispostos a
arcar com as consequências.
Como educadores, esta é nossa maior e talvez única missão:
inspirar nossos alunos. Ajudá-los a se descobrirem, a desenvolverem suas
múltiplas inteligências. Trabalhar habilidades técnicas, mas também
comportamentais e valorativas. Proporcionar-lhes a oportunidade de caminhar
pelo chão batido ou asfaltado de terrenos abertos e sinalizados pelo prazer ou
pela dor de nossas experiências.
Muitos já devem ter sido os alunos que capitularam em seus
anseios, expectativas e sonhos por conta de maus mestres que, consciente ou
inconscientemente, regaram sementes com fel ou as lançaram em terreno infértil.
Mas, felizmente, há também aqueles que promoveram o entusiasmo e despertaram
vocações. Porque a vida de um professor se prolonga em outras vidas.
Data de publicação: 25/04/2008
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