Estúdio Musical

Venha descobrir o encanto através da Música...































quarta-feira, 7 de agosto de 2019

Tipos de cordas para ukulele: materiais, características e aplicações



Não bastasse a grande variedade nos tamanhos e tipos de ukulele, agora você se depara com outra dúvida: que encordoamento devo utilizar? Quais cordas devo escolher?

Neste artigo vamos abordar os principais tipos de cordas para ukulele e suas sonoridades para que você possa potencializar seu instrumento com uma escolha acertada do encordoamento.
As cordas para ukulele se classificam basicamente em 3 grupos principais: nylon, nylgut e fluorcarbono.




Cordas de nylon para ukulele




Boas cordas de nylon têm um timbre muito bonito. É possível variar bastante as sonoridades, dependendo da forma como você toca e também do local do instrumento onde você executa a mão direita (perto do cavalete, na junção entre o corpo e o braço, etc.).
O nylon também tem sustain (tempo de sustentação do som) de moderado a baixo. Não é sensível a variações de umidade, mas é bastante sensível a mudanças de temperatura.
Prós:
boas cordas para batidas rápidas e / ou com suingue (batidas funkeadas, samba-rock, gipsy bossa, etc.);
funciona bem com dedilhados e campanellas;
minimizam ruídos e notas “sobrando” e facilitam a execução de sons mais “limpos”;
caem muito bem em ukuleles de madeira maciça (instrumento de tampo sólido ou todo sólido);
caem muito bem em ukuleles plugados (ukuleles elétricos usando boas captações e bons amplificadores).
Contras:
geralmente não têm muito volume;
nas notas agudas o baixo sustain pode ser até mesmo precário;
demoram alguns dias para esticar e estabilizar após instalação. Isso é comum, mas o nylon demora ainda mais para se adaptar ao instrumento (em comparação com o nylgut e o fluorcarbono);
é preciso afinar o ukulele com maior frequência. As mudanças de temperaturaaumentam o problema.
envelhecem mais rápido, deixando de produzir o melhor som (embora não arrebentem com facilidade);
muitas vezes as boas propriedades das cordas de nylon não se destacam tanto em ukuleles mais baratos (de madeiras laminadas, principalmente de tampo não maciço);
boas cordas de nylon para ukulele não são baratas. As cordas de nylon com preços mais baixos não costumam compensar.
As cordas de nylon podem ser encontradas nas versões clara (transparente) ou escura (preta).
Se você pensa que ukulele só usa cordas de nylon, prepare-se para constatar que… não!



Cordas de nylgut para ukulele



O nome do material vem da junção dos termos nylon e gut (tripa).
As cordas de nylgut combinam as boas características das cordas de nylon e das antigas cordas de tripa, com menor custo de produção e maior precisão na afinação do instrumento. É importante saber que nylgut não é tripa e nem leva tripa em sua composição.
Cordas de nylgut têm uma capacidade mágica de turbinar o som de ukuleles mais baratos, trazendo mais volume, melhor afinação, mais sustain e maior durabilidade. Os sons graves ficam doces e vivos e os sons agudos poderosos.
Prós:
fazem mágica nos ukuleles mais baratos;
devido aos fatores volume e precisão na afinação, caem muito bem nas rodas dos uke days, orquestras de ukuleles, luaus, rodas de choro com outros instrumentos e especialmente na sala de aula com grupos grandes;
têm longa durabilidade. Não rompem com facilidade e não perdem rapidamente a qualidade sonora;
estabilizam rápido após instalação, não desafinando tão rapidamente;
são muito populares em várias partes do mundo, inclusive no Brasil (encontram-se facilmente na internet);
soam bem melhor que as cordas de nylon mais baratas.
Contras:
em batidas mais rápidas é necessário dosar a intensidade dos movimentos.
é preciso mais técnica e precisão para evitar ruídos indesejados;
podem soar estridentes em ukuleles de madeiras de sonoridade agressiva, como o abeto (também chamado de pinho ou spruce em inglês). Isso depende da técnica do instrumentista, além de se tratar de uma questão de gosto;
tenha muito cuidado com as falsificações. Talvez por serem tão populares, as cordas de nylgut são largamente falsificadas. Desconfie de preços mais baixos que os de mercado, investigue a reputação do vendedor e tome todo tipo de informação útil antes de efetuar sua compra.
As cordas de nylgut geralmente são brancas, mas há modelos tingidos de preto, azul, amarelo, vermelho e verde.
Agora, prepare-se para descobrir o que linhas de pesca têm a ver com ukulele no próximo tópico…



Cordas de fluorcarbono para ukulele




Cordas de fluorcarbono deixam o som do seu ukulele bem “brilhante” (levemente metálico). Também trazem longo sustain e bastante volume. A sonoridade do fluorcarbono é cortante e direta, porém sem fugir da estética sonora tradicional do ukulele.
Fluorcarbono é um material muito utilizado em linhas de pesca. Vale ressaltar que alguns fabricantes apenas embalam uma seleção de linhas de pesca e vendem como cordas de ukulele. Isso não é necessariamente depreciativo, até pode funcionar muito bem.
Elas turbinam o som de ukuleles mais baratos, mas também dão bom resultado em ukuleles de madeira maciça. Os sons graves não são tão doces, soando levemente metálicos. Os sons agudos são poderosos e marcantes.
Prós:
a afinação é precisa e estável. Também afinam relativamente rápido após instalação;
excelente para ambientes externos (temperatura e umidade não afetam significativamente o fluorcarbono). Também são ótimas para uke days, orquestras de ukuleles, rodas de choro e salas de aula;
nos sopranos essas cordas soam maravilhosamente bem. Sonoridade direta, mais sustain (sem exageros), mais volume e boa afinação;
funcionam muito bem em ukuleles de madeira maciça, assim como em ukuleles de madeiras laminadas.
Contras:
oferecem pouca variação de timbre;
podem soar estridentes e excessivamente metálicas, a depender da combinação madeira x encordoamento e das técnicas utilizadas ao tocar (quem sabe usar, tira isso “de letra”);
podem desfiar, perdendo a qualidade do som, e até romper. Isso é mais comum no ukulele tenor. No concert esse problema é menos frequente, sendo muito mais raro no soprano. Não são todas as marcas de cordas de fluorcarbono que desfiam com facilidade: alguns fabricantes resolveram muito bem esse problema, mas não é tão incomum acontecer.
Já conhecidos os 3 principais materiais das cordas, convém fazer algumas menções importantes.



Cordas revestidas para ukulele



É comum encontrar cordas com revestimento de alumínio, cobre, prata ou bronze. Geralmente isso se aplica nas cordas graves. Exemplos:
terceira corda nos ukuleles sopranos, concerts e tenores;
quarta corda quando se usa a afinação low g (corda sol afinada uma oitava abaixo do convencional para os ukuleles);
terceira e quarta cordas nos ukuleles barítonos.
É menos comum encontrar encordoamentos com todas as cordas revestidas (já experimentei um encordoamento assim). O instrumento ganha muito no sustain e fica com um timbre geral bem peculiar. Não produz tantos ruídos quanto eu imaginei antes de testar.
Agora que você já conhece os materiais queridinhos do universo do ukulele (o trio: nylon, nylgut e fluorcarbono), já posso listar outras opções interessantes.


Cordas de ukulele feitas com materiais alternativos (alguns exemplos)


Sugar: combinação de plásticos com derivados da cana de açúcar. Bons vibratos, boa variação de timbres, afinação precisa e bom volume. Pode produzir um ruído agudono contato da mão direita, o que se resolve ao passar creme para mãos nas cordas. Parece uma mistura interessante de boas características sonoras do nylon e do fluorcarbono.
Bionylon: utiliza óleo de rícino na mistura. O processo de produção dessas cordas é bem menos poluente. Sua sonoridade é mais tímida, com pouco volume, timbre linear e agudos mais apagados.
Red series: utiliza cobre em pó na mistura. Sons levemente metalizados, timbre firmee marcante. Excelente afinação. Demanda cuidados especiais na instalação e na utilização para evitar rompimentos.
Titanium: utilizam um monofilamento denso como sonoridade similar ao nylon. Som brilhante, bom volume e nitidez.
Nyltech: parceira entre D’Addario e Aquila. Boas características do nylon, porém com uma tensão mais alta e som mais brilhante. Parece uma mistura entre sonoridades do nylon e do nylgut.
Fibra composta: mistura que envolve também o nylon. Sonoridade parecida com a do nylon, com um pouco mais de “brilho”.
Genuine gut (tripa): cordas feitas com matéria prima animal. São utilizadas por quem busca sonoridades antigas (música antiga europeia). Custam relativamente caro e são difíceis de encontrar.


Cordas de material exótico (perigoso) aplicadas ao ukulele
Aço: usado nos cavaquinhos, bandolins, violas caipiras, guitarras elétricas e também uma opção muito comum para violões especialmente preparados pra isso. Mas é uma raríssima exceção no universo dos ukuleles. Em princípio, não use (ao menos que saiba muito bem o que está fazendo). É muito provável que você danifique seriamente seu instrumento.
É possível observar o uso adequado de cordas de aço em alguns ukuleles-banjo (banjoleles), em resonators (ukuleles do tipo “Dobro”), alguns cigar box e em ukuleles que imitam a construção de guitarras elétricas (corpo sólido, captação típica). Tais instrumentos precisam de preparações específicas para evitar danos ao tampo, cavalete e braço – causados pela alta tensão das cordas de aço.
Em termos de som, acontece um distanciamento do timbre tradicional dos ukuleles. Por isso, mais do que alternativo, é um material exótico. Depois de – provavelmente – riscar o aço da sua lista, chega a hora da pergunta crucial…


Afinal, quais são as melhores cordas para ukulele?
Isso é tão difícil de determinar quanto o melhor carro ou a melhor dieta. Uma Kombi pode te atender melhor que uma Ferrari, especialmente se você precisa fazer fretes. Mas eu posso te ajudar listando uma série de fatores a considerar:
Fator 1: tamanho do ukulele
Parece óbvio, mas já vi muita gente empolgada comprando com pressa e errando o modelo. Respire fundo e verifique se o encordoamento é para ukulele soprano, concert, tenor ou barítono. Raros encordoamentos (como o caso do Aquila Kids) servem tanto soprano, concert e tenor. Tenha cuidado e escolha o modelo que serve para o seu tamanho de ukulele.
Fator 2: afinação do ukulele
Verifique se o encordoamento foi desenvolvido para suportar a afinação que você usa.
Afinação mais comum:
1ª corda: lá
2ª corda: mi
3ª corda: dó
4ª corda: sol
Por causa da associação visual com os diagramas de acordes, é normal dizer “sol, dó, mi, lá” (começando pela 4ª corda e terminando na 1ª):


Segue adiante uma lista com algumas das cordas consagradas pela comunidade internacional do ukulele. Se alguma marca que você está querendo testar não estiver na lista, não quer dizer que não seja boa. O mundo é grande, gira o tempo todo e as novidades não param de aparecer. Vamos lá:
Nylon: D’Addario, GHS, La Bella, Hanabach, Ko’olau, Savarez* e Aquila**
Nylgut: Aquila, Aurora***
Fluorcarbono: Martin, Worth, Oasis, D’Addario, Living Water, Fremont.
*A Savarez usa uma fibra composta (contendo nylon na composição), que no fim das contas dá um som de nylon. 
**O único modelo da Aquila que tem sonoridade típica do nylon é o AQ x AG. 
***Aurora usa um material patenteado pela Aquila chamado “Silkgut”. São cordas tingidas com sonoridade muito parecida com o nylgut.
Outras marcas interessantes disponíveis no Brasil:
Nylon: Magma
Fluorcarbono: Paco
Encordoamentos com materiais alternativos:
Sugar, Bionylon, Red Series e Geunuine Gut: Aquila.
Nyltech: D’Addario (usa tecnologia da Aquila, mas é distribuída pela D’Addario)


Ainda não se decidiu?
Calma! Depois de tantas informações, é difícil chegar a uma conclusão pontual.
Tenha apenas uma certeza: você precisa testar de tudo ao longo dos meses e anos (pode quebrar o cofrinho). Além disso, você pode tentar ouvir diferentes performances e reviews de todos esses encordoamentos pesquisando por vídeos no YouTube. Use termos em inglês (e até mesmo em outros idiomas) para expandir o universo da pesquisa.


Últimas dicas
Tente harmonizar as características sonoras do seu ukulele com as do encordoamento:
Harmonização por contraste (equilíbrio).
Madeiras claras (abeto, cedro) tendem a produzir sons mais potentes e estridentes, podendo se equilibrar com cordas de sonoridade mais doce e com graves encorpados.
Madeiras escuras (mogno, koa) tendem a produzir sons mais doces, podendo se equilibrar com cordas mais estridentes.
Harmonização por semelhança (potencialização).
Para potencializar a estridência uma madeira clara, use cordas mais agressivas para obter frequências agudas e timbres metálicos intensos. Se o objetivo for adocicar e suavizar ao máximo, misture madeiras escuras com cordas de som mais tímido.
Faça testes com diferentes encordoamentos
Teste cada encordoamento usando diferentes técnicas: melodias, batidas, rasgueados, tripletes (triplet strum), ligados (hammer-on / pull-off), arrastes (slides), campanellas, clawhammer, troca de acordes, aproveitamento de cordas soltas, etc.
Teste cada encordoamento em diferentes situações: acústico, plugado, ambiente externo, salas com boa acústica, gravações, sala de aula, etc.
Considere o tato: cordas escorregadias, ásperas, lisas… perceba, reflita e catalogue em sua mente (deixe a sinestesia rolar!).
Considere sua “pegada”: com ou sem unhas, com ou sem palhetas, intensidade, sua(s) maneira(s) de tocar em geral… coloque tudo na balança.
Considere a regulagem do instrumento: mudanças de material (do nylgut para o nylon, por exemplo) podem demandar novas regulagens. Não é incomum que o ukulele apresente algumas notas trastejando ou problemas na entonação (afinação das notas feitas por cordas presas ao longo do braço).

Nenhum comentário:

Postar um comentário