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segunda-feira, 28 de outubro de 2019


O “efeito Mozart” é um tema mediático que gerou muita controvérsia nos anos 90, acalentado pelo intenso debate (público e académico) e que transformou as políticas educacionais americanas para a primeira infância. É, pois, um tema que merece ser revisitado e esclarecido.
Wolfgang Amadeus Mozart (1756 –1791) nascido em Salzburgo, na Áustria, foi um músico prodigioso e compositor clássico prolífico, mundialmente reconhecido, e apreciado, pela vasta obra deixada. As suas composições incluem: música de câmara, sinfonias, concertos, óperas, etc.
Em 1991, o médico francês Alfred Tomatis descreveu o conceito de “efeito Mozart”, no seu livro “Porquê Mozart”. Baseado na sua experiência pessoal e profissional, Tomatis formulou a ideia de que a audição de música de Mozart ajudaria a “treinar” o ouvido, desenvolvendo, assim, as capacidades auditivas, cognitivas e que ainda poderia ter propriedades curativas.
Intrigados com este relato, Frances Rauscher (violoncelista e psicóloga), Gordon Shaw e Catherine Ky (investigadores da Universidade da Califórnia, EUA) decidiram estudar, cientificamente, quais os efeitos cognitivos após a escuta de 10 minutos do 1º andamento da Sonata para Dois Pianos em Ré Maior de Mozart (K 448), em 36 estudantes universitários. Os resultados publicados, em 1993, na prestigiada revista Nature, revelaram, apenas, uma melhoria temporária (durante 12 minutos) no raciocínio espaço-temporal, um sub-teste da escala de Quociente Intelectual (QI) de Stanford-Binet.
Os resultados causaram furor, pois foram, erradamente, interpretados como um aumento permanente do QI geral. Entretanto, a atenção mediática apadrinhada pelo New York Times estimulou diversas oportunidades comerciais. Surgiram livros, CDs e produtos relacionados sobre o “efeito Mozart”. Vendiam a ideia de que ouvir Mozart, e outras peças clássicas, tornaria qualquer pessoa mais inteligente. Foi ainda recomendada música clássica (selecionada) para estimular o desenvolvimento cerebral dos bebés. Convém referir que, Rauscher, uma das co-autoras do artigo original, sempre negou a alegação do aumento da inteligência, e tentou clarificar os equívocos.
  A grande popularidade do “efeito Mozart” causou euforia na classe política americana. No estado da Flórida, foi regulamentado que as creches deveriam tocar, diariamente, música de Mozart. No estado da Geórgia, o governador Zell Miller, em 1998, decidiu oferecer a cada criança que nascesse um CD de música clássica (gravado pela orquestra sinfónica de Atlanta). O mito estava criado!
Alguns estudos subsequentes confirmaram o aumento temporário nas capacidades espaço-temporais, enquanto outros não conseguiram replicar os resultados. As meta-análises concluíram que havia pouca evidência para apoiar o efeito Mozart descrito por Rauscher. De qualquer forma, do ponto de vista cognitivo, a audição passiva de música clássica, e de outros estilos e instrumentos, desenvolve, de forma implícita, a perceção (competência musical recetiva) e a memória. Permite-nos internalizar e reconhecer a estrutura musical da cultura circundante.
Em conclusão, o “efeito Mozart”, definido como aumento permanente da inteligência após audição de música, é um mito. Para uma melhor discussão sobre o efeito da música nas capacidades intelectuais, deve-se distinguir entre audição passiva de música (competência musical recetiva) e a aprendizagem formal musical (competência musical expressiva ou de produção), sendo que nesta última está cientificamente comprovado o aumento do QI.


CARINA FREITAS
Médica

https://www.jm-madeira.pt/opinioes/ver/3061/Efeito_Mozart__%E2%80%93_mito_ou_realidadef
 

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